Na Estante: Honra Teu Pai

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Livro + indicações de leitura do pessoal do trabalho do Rafa

Tenho certeza que vocês acharam que minha meta de ler 20 livros nesse ano tinha caído em esquecimento, né? Erraram! Acabei de ler o 13º, o que quer dizer que eu preciso ler uns livros menores para conseguir atingir o objetivo.

Quando entrei na faculdade de Jornalismo, quase todos professores falaram que Gay Talese era um dos maiores jornalistas que a gente poderia ler. Mas como todo bom estudante, não segui as dicas que ouvi e não li nenhum dos grandes nomes que mandaram. Mas a vida nos surpreende. Meu irmão mais velho comprou um livro do Talese e me emprestou, sem ao menos ler. Eis que assim Honra Teu Pai caiu em minhas mãos.

O livro conta a história da máfia, mais especificamente da família Bonanno, que teve seu auge entre 1930 e 1960, controlando loterias clandestinas em bairros pobres. Os bonannos foram uma das cinco grande famílias mafiosas de New York, e eram naturais da própria Sicília, onde de fato nascem as máfias, antes de começarem imigrar parar os Estados Unidos. O patriarca é Joseph Bonanno, nascido em 1905 na cidade de Castellamare, que chega em terras norte-americanas fugindo do fascismo italiano. Bonanno é um líder de nascença, e se não fosse chefe do crime, poderia ser de qualquer outra coisa – mas escolheu o caminho mais sujo. No decorrer da vida, Joe Bananas (como ficou conhecido) teve três filhos: Joseph Jr., Catherine e Salvatore (Bill).

O autor da obra, Gay Talese (foto: David Shankbone)

O autor da obra, Gay Talese (foto: David Shankbone)

Por não confiar em ninguém jovem para suceder seu posto quando se aposentasse, Joe não viu outra opção a escolher alguém não só de sua confiança, mas de seu próprio sangue. Bill, seu filho mais velho, não só foi escolhido, como virou “sócio” da família Bonanno. E é em torno dos dois e suas famílias, problemas, aflições e tristezas, que Gay Talese aprofundou sua pesquisa para esse incrível livro-reportagem. E o que torna ele excepcional é exatamente isso: não tratar com superficialidade nem o mais simples dos detalhes. Vi em uma resenha pela internet a seguinte frase “Ler Gay Talese é aceitar que você nunca será um jornalista como ele”. Não é só chegar lá e escrever sobre algo, é ter um olhar e uma sensibilidade diferente dos “jornalistas comuns”. Não menosprezando quem trabalha com notícias do dia a dia ou coisa do tipo, tem espaço pra todo mundo, mas assim como no cinema, temos os bons diretores, também temos os Kubricks, Tarantinos, etc.

Se você espera muita ação, tiros e intrigas, talvez esse livro não seja o indicado. Ele traz assuntos menos superficiais e que não apareceram nas capas de jornais da época. É um dossiê, de vida e “obra”, não só dos crimes, mas de como nasce, constitui e vivem os mafiosos, dos dias mais tediosos possíveis aos mais agitados, fugindo de estado em estado e escapando da morte.

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Na Estante: A fofa do terceiro andar

Antes de começar essa resenha preciso confessar uma coisa: AMO livros juvenis, bem adolescente sabe? Com leitura leve, linguagem gostosa. Acho que é uma ótima pra dispersar um pouco do todo tão sério que a gente vive todos os dias. Política, crise, trabalho… uma hora dá TELA AZUL na mente, gente! Mas ó, claro que a gente precisa estar ciente de tudo o que tá rolando, por mais sério e problemático que seja, só acho que é legal dar uma folguinha pra cabeça né? Deixar o imaginário absorver algo mais light, só pra variar. Confissão feita, vamos ao que interessa.

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Me interessei por esse livro pela capa – as vezes sou dessas -, mas fui atrás da sinopse e de alguma resenha e conclui que sim, valia a pena comprar e a história poderia render algo bacana pra mim. Dito e feito. A fofa do terceiro andar retrata três anos da vida de Ana, uma garota gordinha – remetido ao ‘fofa’ – que está passando por uma grande transição. Recebendo adjetivos grosseiros ligados a sua aparência desde pequena, ela começa a notar que eles nem sempre são sinônimos de que as pessoas estavam sendo legais com ela e isso começa a afetar sua vida de um maneira ruim, profundamente.

O foco do livro é o bullying, mas ele aborda diversos outros assuntos, tudo de modo simples, natural e bem honesto. É o primeiro na categoria juvenil da escritora Cleo Busatto, que já tem algumas publicações infantis, e achei que ela mandou bem no tema, na forma de escrever e nos pontos de reflexão. Tudo ornou!

IMG_3667Entre tantas situações que a protagonista passa por conta de ser peso e sua aparência física, como com chacotas, desprezo dos ‘colegas’ de escola e questões familiares, ela acaba desenvolvendo meios de entender a si própria e começa a se aceitar como é. Se aceitando ela percebe que precisa se cuidar, se preocupar com sua saúde e bem estar e não simplesmente tentar se encaixar em padrões de beleza. A partir daí muda seus hábitos e inclusive, seu comportamento, se tornando mais confiante de si. E é incrível ver a mudança de Ana no decorrer do livro, é confortante e inspirador. Tanto nessa fase de aceitação quando posterior a ela, quando as amizades começam a surgir criando em Ana uma nova visão sobre as pessoas  e novos elos. Além de ser bem fácil de se identificar com alguma fase ou problema que ela passou, refletir sobre tudo e, principalmente, serve muito para praticar a empatia. Muitas das coisas que ela conta ter passado são fortes e tristes pra sua idade, e aí você vai se colocar no lugar dela e pensar em uma ou outra vez que soltou alguma piadinha ou comentário maldoso sobre a aparência ou algum aspecto físico de outra pessoa a fim de diminuí-la ou por que julgava ser engraçado.

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E como o livro é uma espécie de diário, acaba aproximando bastante o leitor da personagem, criando um certo vínculo. Você passa a dividir com Ana as emoções, os medos, as superações. Eu confesso que o livro me fez refletir muito sobre algumas bads que eu ainda tinha nesse sentido de corpo/peso/aparência e me deu uma forcinha no quesito aceitação. Fiquei bem estimulada a pesquisar mais sobre isso, procurar entender melhor a mim mesma e ter uma percepção um pouco mais clara sobre minha força de vontade, e meus conceitos do que é ‘ideal’ pra mim.

E no final, além de ter a certeza de que valeu mesmo a pena comprar o livro, me vi orgulhosinha da Ana. Deu vontade de sentar e conversar, dividir experiências, contar as coisas que já passei e as coisas que também mudaram em mim. Rir do que um dia já foi de chorar, falar sobre qualquer coisa e dar um abraço gostoso. Agradecer por ela dividir seus sentimentos mais profundos, suas vergonhas, e dizer que vou recomendar que muitos marmanjos leiam, porque, apesar de ser uma leitura bem juvenil, esse assunto precisa ser muito refletido por algumas pessoas já bem grandinhas que acham que alguns são melhores que outros com justificativas tão banais que a gente se pergunta de onde vem tamanha superficialidade e até quando essa pressão por padrões vai continuar?

Editora: Galera Record   |   Autor: Cléo Busatto   |   Número de páginas: 142

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Na Estante: Buda – Heródoto Barbeiro

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No começo de 2014 passei por algumas dificuldades que me levaram a conhecer um pouco mais sobre o budismo e frequentar alguns templos. De todas as religiões que conheço, o budismo – se é que pode ser chamado de religião – é a que mais me agrada e condiz com as ideias que sempre acreditei. Para me aprofundar no assunto, comecei a ler artigos que encontrei na internet, mas eu precisava de algo mais físico, de algo mais próximo, mais concreto.

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Como de costume busquei nos sebos que já conheço, e encontrei esse livro: Buda – O mito e a realidade. O livro é escrito pelo jornalista Heródoto Barbeiro (aquele mesmo, da Record News), que inclusive recebeu o título de monge leigo, dado pela comunidade Soto Zen Shu.

O budismo foi trazido em 1960 pelos imigrantes japoneses, mas existem outras vertentes da religião, como a chinesa e a tibetana. É dividido em várias escolas, cada uma com suas particularidades.

buda_capaNessa publicação, o autor conta a história de Sidarta Gautama, o grande Buda, e faz um grande apanhado da filosofia dentro da prática budista. Como diz no título, alguns mitos vão ser desfeitos durante a leitura, como por exemplo que aquele monge gordinho tão conhecido no Ocidente, não é o Buda que todos acreditam ser.
A própria palavra “Buda” não é o nome de uma só pessoa. Na verdade é um termo em sânscrito que significado ‘o iluminado’, e é a denominação para aqueles que atingem a iluminação, assim como Sidarta.

Como comprei o livro já usado, ele veio com uma dedicatória de um pai para um filho, e  sintetiza minha opinião sobre o assunto:

Pedro,
Não é preciso religião para viver melhor a vida. Não há conselhos para dar ou ouvir, as lições cabem na vida.
Que você tire suas próprias conclusões. Você tem todas as condições, que a vida já te deu. Com amor, o maior possível!
Papai – Julho/2006

Esse é um livro que indico para todos que me perguntam sobre o budismo, e que foi meu pontapé inicial para querer aprender mais. O melhor “resumo” já feito, em 120 páginas, que te coloca de cabeça num longo caminho. O Caminho do Meio.

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Na Estante: Beleza Real – Negahamburguer

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No final de 2013 eu estava rodando pelo Catarse, um site de financiamento coletivo, quando me deparei com o projeto Beleza Real, da Negahamburguer. Achei o desenho dela diferente e a proposta melhor ainda: que cada um enxergue as pessoas além dos padrões de beleza impostos pela sociedade.

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(foto: divulgação)

No livro, a autora Evelyn Queiróz – criadora da Negahamburguer – ilustra histórias que recebeu durante o ano de 2013. Relatos de mulheres que sofreram algum tipo de agressão por conta do seu peso, aparência, cor, gênero ou orientação sexual. Em seus desenhos, ela dá forças pra cada mulher que sofre diariamente nas mãos do machismo.nh4 A cada página do livro foi possível fazer uma reflexão sobre minhas atitudes, e ver o que eu posso melhorar a cada dia, me afastando do que é visto como “comum” e tratando as pessoas com o que todos merecem: respeito.

A Negahamburguer, além dessa publicação, teve uma exposição esse ano no Sesc Santana e possui uma página no Facebook onde divulga seus trabalhos, faz intervenções urbanas e semeia ideias feministas, empoderando cada vez mais as mulheres.

Coincidência ou não, a Bárbara também tem esse livro e sempre indicamos para homens e mulheres que querem ampliar um pouco mais sua visão sobre o assunto.

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Na Estante: Nu, de Botas – Antonio Prata

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No final de 2014 eu coloquei uma meta na minha vida: ler doze livros por ano. Parece muito simples para qualquer pessoa, mas eu achava que tinha dois problemas: o primeiro seria estudar e trabalhar, e consequentemente não ter tempo. O segundo é que eu leio MUITO devagar. Bem, descobri que eram desculpas para não tornar o prazer de pegar nos livros um hábito. Atualmente estou no sétimo, faltando cinco para atingir o objetivo de 2015.
Para começar as resenhas, escolhi o primeiro livro que terminei esse ano: Nu, de Botas, do Antonio Prata, lançado em 2013.

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Conheci o autor através de seus textos publicados em jornais e comecei a admirar o modo que ele escreve. A presidente de uma ONG que trabalhei me presenteou com o livro.

Em Nu, de Botas, Prata apresenta diversas histórias de quando era criança, em uma visão compatível com a idade. O misto de realidade e ficção faz você se questionar a cada página até que ponto ele vivenciou aquilo, e até que ponto foi fruto de sua imaginação. O lado cômico, que me tirava risadas dentro do metrô, fez eu me sentir quase que dentro das crônicas. Vi várias crianças da minha família e até parte de minha própria infância a cada página (tirando, é claro, o fato dele morar no Itaim Bibi).
nudebotas_foto2Em certo trecho, ele conta que tentava diariamente ligar para o programa do Bozo, e me fez recordar do Hugo Game. Quando eu era pequeno meu sonho era conseguir falar com os apresentadores para jogar pelo telefone, e como ele, achava que nunca me atenderiam (e não atenderam :/).

Outra parte que me fez gargalhar foi quando ele descreve sobre como usar cueca era um tabu na infância: “afinal, pra que servia aquela camada inútil de pano entre a pele e a deliciosa textura do moletom?“.
Com 144 páginas, o livro é uma ótima indicação para quem quer uma leitura leve e rápida, bem descontraído sem parecer forçado, e ver como é a visão de uma criança sobre a vida. Mas prepare-se: sua memória vai te levar nas mais profundas lembranças.

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